Aflição.
O Inferno se sublima em sentimento e me habita, como parasita que se alimenta de ânimo.
A profundeza em chamas — que jamais existiu como no mito — gera pressão, e esta esmaga seus habitantes.
Decepção.
O real ganha forma de acordo com a volição, como parasita que se alimenta de ânimo.
A superficialidade por excelência — que jamais existiu como absoluta — não gera coisa senão ambiente estéril a ser preenchido.
Esperança? De que e para quem?
Não, nenhuma. O nome é expectativa, criada pelo medo do invisível e do inesperado.
Se é necessidade vinda do medo, diz-se coragem?
Se visa afastar o embate, diz-se precaução?
Surge da pressão e vira crença?
Algo injeta significado, outro aceita e reage.
Como máquina sem vida pede combustível, pedimos sempre mais significado — daí vem o crescer, o questionamento e a sensação de existir.
Entretanto, toda mecânica falha na escassez e no excesso; quanto mais se gasta ou mais se injeta, mais se perde força e mais se percebe a finitude do efeito. Daí se vai o crescer, o questionamento e a sensação de existir.
Sobra a mecanicidade frágil e débil. Nota-se, então, a faixa limitada que pode ser processada como informação construtiva. Todo o resto é destruição, desconstrução e inexistência.
Pede-se explicação e tudo ressurge de forma anti-explicativa. Clama-se pela Verdade, mas não a conhecemos senão por véus.
O dia acabou e agora tudo é noite e incerteza.
O dia acabou e os véus tornam tudo ainda mais escuro.
Quando definimos leis, falamos de acaso. Quando definimos acaso, falamos da única lei.
O interno é fantasioso e o externo é casca oca.
Somos nada senão ilusão.