domingo, dezembro 24, 2006

Visão de futuro

Escrevi, apaguei, fechei a música que tava tocando.
Tchau, Inspiração! Vê se volta logo!

E da próxima vez leva sua amiga Insanidade junto :D

Feliz Natal!

Hoje tem peru, tem doces variados, tem banquetes!
Tem fogos, roupas novas, supérfluos.
Tem beijos, abraços, família reunida, falsidade.

Hoje tem pessoas com fome, como sempre.
Assassinos que aproveitam a hora dos fogos, normal.
Hoje tem a maravilhosa máquina humana num pseudo-espírito natalino esperando por um presente no aniversário do salvador da maioria.

Hoje tem celebração humana.
Hoje tem putaria!

Feliz natal.

"Perdoai-vos Pai, pois eles não sabem o que fazem..."
- Profeta? Acho que é só usar a lógica, que já era válida desde Adão.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Ritual suicida da madrugada

- Certifique-se de que todos estão dormindo ou ausentes;
- Tome banho quente se for uma noite quente, ou frio se for uma noite fria;
- Descanse sua testa embaixo do chuveiro por, no mínimo, 20 segundos;
- Desligue o chuveiro e procure a toalha mais próxima;
- Seque-se e saia do banheiro ainda nu;
- Vista a cueca e a calça na cozinha;
- Ainda sem camisa, abra a geladeira e encha um copo com a água mais gelada que encontrar, beba sem respirar entre os goles
- Vista o resto das suas roupas;
- Vá para o PC e termine sua noite.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

quinta-feira, dezembro 14, 2006

A (des)importância do método racional com ênfase em alguma coisa

E é em noites de calor que eu penso mais.
Aquele calor infernal maldito em plena madrugada atrapalhando meu sono, sem nada para fazer e sem vontade de ligar o computador. Deito na cama e penso, e penso, e penso.
Por isso em noites de calor eu penso mais.

E as pessoas se dividem e se procriam e ficam largando suas migalhas por aí, e ficam enfiando suas migalhas garganta abaixo de terceiros, e se gabam, e se lambem.
Enfim tudo se sintetiza em um chip biológico que passa tudo pra realidade numa capa de movimento e/ou ação.
Afinal até o infindável tem seu limite, mas somos demasiadamente humanos para sequer pensar nisso. O sobre-humano não passa de excesso de racionalidade, esse é o limite.

E a ordem não há mais, nunca houve.
E a visão não há mais, as pálpebras não permitem.

E os quatro níveis proíbem o uso do eu.

E eu durmo, sem saber porquê.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Unchained Memory

Tem posts que eu cheguei a escrever, mas apaguei antes de postar.
Agora há pouco eu tava procurando um deles por aqui, mas eu nunca postei. E nem postarei.

Hah, engraçado, não?
É, não mesmo.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Sutilidade

Ponto ponto ponto ponto ponto ponto ponto.(ponto)

Faltou criatividade.
Faltou criatividade!
Faltou criatividade?

terça-feira, novembro 28, 2006

Acômodo semi-controlável da evolução auditiva humana no âmbito urbano, também chamado simples e vulgarmente de "costume".

PRRRRRRRRRRRRRRRrrrrrrrrrrrrrr........... ...

PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIiiiiiiiiiiiiiiiiii...................... ...

PEHNPEHNPEHNPEHNpehnpehnephnephnehgepnhpnhe................... ...

sexta-feira, novembro 24, 2006

Energia Pura!

Atenção meninada! Quer ser bonito e desejado por todos? Quer ser popular? Queeeer ser o exemplo pra seus amigos ou observadores? Vire energia pura! ENERGIA PURA, meninada! É isso ae!
Mande agora sua cartinha para NASA, escrito no envelope "Quero virar energia pura!"

E que você seja bem recebido no buraco negro mais próximo, loser!

segunda-feira, novembro 13, 2006

To the lovely Mr. R

Lixos nascem, crescem.
Lixos seguem o fluxo, e se orgulham disso.
Lixos mudam de forma, e continuam se orgulhando disso.
Lixos gostam de feder e espalhar seu fedor e ouvir reclamações.

Ah se fosse somente lixo orgânico!

quarta-feira, novembro 01, 2006

Ciclo

Começou como um objeto, até que descobriu-se alguma utilidade; virou ferramenta.
De ferramenta aleatória foi melhorando até ser cotidiana e melhorando até ser essencial.
Da essência veio a alma e da alma veio a vida e da vida a multiplicação.

E da multiplicação veio a banalização e, enfim, o retorno ao seu posto inicial de objeto.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Discurso ativo imposto, aceitação passiva imediata

Passando os fatos como uma luz num prisma contemporâneo, eu acho que tudo é uma bosta azul.
Bosta por ser, não tem discussão.
E azul por eu gostar, qual sentido em discutir?

quinta-feira, outubro 19, 2006

terça-feira, outubro 10, 2006

quarta-feira, outubro 04, 2006

Ócio

Eu tava com sono e com tédio.
Eu tava com sono e com tédio de besta, eu tinha algo pra fazer.
Mas eu tava com sono e com tédio e com preguiça.

Eu tava com sono e com tédio e com preguiça procurando o que fazer.
Eu tava com sono e com tédio e com preguiça procurando o que fazer por não querer fazer o que tinha pra fazer.

Eu tava com tanto sono e tanto tédio e tanta preguiça que repeti um monte de vezes um monte de palavra pra escrever uma coisa infinitamente inútil.

Mas eu tinha o que fazer, eu juro!


[O que eu tenho, doutor?]

terça-feira, outubro 03, 2006

Life in a box

Enquanto estava no banho eu pensava em coisas pra escrever (aqui e em qualquer lugar).
Lá, no banho, eu criei o mundo e o desfiz em vapor. E o restante, com a água, escoou.
Na sagrada missão do banho automático de fazer tudo sem pensar, tinha pensamentos vagos e pensei em pensar em escrever coisas e pensei em colocar aqui (ou em outros lugares).
Mas sempre, todos os dias, eu pensava mundos e outras coisas e assim que eu abria o box e pensava em me enxugar e me vestir, tudo ia embora (assim como o vapor e a água, daí vem a metáfora).
Então hoje me veio a luz (e a água na minha cabeça e o vapor formado dela).
"Ué!" já que as idéias l337s e tr00s iam embora (como o vapor que se espalha pelo banheiro todo e se perde ou como a água que vai pro ralo ou se deposita no chão e depois é seca), então vou escrever sobre as idéias (e sobre o vapor e sobre a água).

Aí a idéia se espalha em parágrafos cheios de frases e palavras e letras (acentuadas ou não) e pontuação
....em frases cheias de palavras e letras (acentuadas ou não) e pontuação
...em palavras cheias de letras (acentuadas ou não) que ainda dizem algo
..em letras sem acentos nem expressividade


Puf! virou alfabeto.

quarta-feira, setembro 27, 2006

sábado, agosto 12, 2006

[Petr]olhai-nos, Allah

S
o
l
d
a
d
o Soldado Soldado Soldado Soldado Soldado


-> E todo caos no oriente médio há uma explicação lógica e plausível: lá que mataram Jesus. É óbvio.

domingo, julho 02, 2006

CIRCLE 2,3,5,6

Cara, não tem jeito. Se você desenha um círculo, você tá desenhando a linha do círculo, não seu interior ou exterior. É uma linha, é isso.

sábado, maio 20, 2006

Superficial

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z


É, nem sempre os acentos, misturas e regras são visíveis.

terça-feira, maio 16, 2006

São Paulo living a chaos

Perfeição - Legião Urbana


I
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

II
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

III
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

IV
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

V
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição

segunda-feira, maio 15, 2006

Juíz de volleyball com rede concreta

João.
Achava ser inteligente, intelectual.
Outras pessoas também o achavam inteligente, intelectual.

Rejeitava inferiores e louvava superiores.
Sua visão do mundo ia de acordo com seus amigos que pareciam inteligentes, intelectuais que iam de acordo com outras visões que parecessem inteligentes, inteletuais. Assim também eram seus gostos gerais.

Não se redimia dos seus erros e ignorava o que não queria ouvir. Dizia aceitar críticas, mas só aceitava dos superiores. Falava mal de qualquer um mas não via suas falhas. Dizia que o mundo era falso, que todo mundo falava mal de todo mundo por trás.


Coitado, tão coletivo.
Tão itálico.

quarta-feira, maio 10, 2006

Tragédia

Dona Maria era uma senhora gorda, queria emagrecer.
Um dia ela foi a uma livraria procurar algo para uma nova dieta. Achou um livro sobre alimentação saudável.
Comprou o livro. Tinha capa dura, folhas nobres e era bem grosso; foi um livro bem caro. Tinha fotos charmosas e receitas.
A partir desse dia só comeu alimentos integrais e verde. Inclusive uma deliciosa salada de mamona.
Foi sua última refeição.

Coitada, nunca sequer leu o livro.

quarta-feira, maio 03, 2006

Polýgonon

Vê? O cubo parece crescer.
Aquele vidro engana, olha o reflexo, olha o interior. O vidro te olha.
Há cubo no cubo? há no cubo, cubo?
Vê? A janela está empoeirada.
Tenta ver, já está suja mesmo.

Viu? A teoria é exata mesmo sem provas.
Eu sei o que você fez! Não esconda de mim, eu sei de tudo. O vidro é fumê, mas eu te vejo. Meu ambiente é mais escuro.
Isso, envergonhe-se. Tem motivos de sobra! e eu o sei bem; sabe que eu sei?

Assim mesmo.
Mesmo assim.

Ah, estou com frio.
A blusa está lá fora; fora do meu mundo.
Mentira, não estou com frio não.

quinta-feira, abril 27, 2006

Bah

O que está acontecendo [...]?

Responda sem saber. Não precisa ter sentido, muito menos um caminho linear.

sexta-feira, abril 21, 2006

Esponjas preguiçosas

Agora há pouco estava tomando água com açucar.
Não, eu não estava nervoso ou algo do tipo. Minha mãe sempre nos dava água com açucar quando estávamos "nervosos ou algo do tipo". Quando menor eu não tomava água com açucar por vontade exatamente por isso, achava ser remédio mesmo que nunca tivessem me dito que havia qualquer tipo de droga nisso.
Nunca houve qualquer tipo de droga em água com açucar, mas eu só via as pessoas tomando quando era "necessário". Sem falar que quando eu tomava por tomar me diziam que fazia mal. De onde tiraram isso? É bem óbvio, eles tinham (ou ainda tem) a mesma visão que eu tive.
Engraçado como as pessoas absorvem e guardam as coisas do mesmo jeito que recebem. Isso é falta de personalidade ou medo da modificação? Talvez confiança demais.

terça-feira, abril 18, 2006

Extremismo simbolista do terrorismo poético

Uma laranja.
Aliás, um feto de laranja.
Cresce, cresce, amadurece, cai.
Abre uma rachadura na casca, seu suco é ácido.
Caem mais laranjas dessa árvore fértil porém abandonada. Mais suco ácido no chão.
Chegam pássaros, formigas, moscas depositando seus ovos que crescem, crescem, viram vermes, amadurecem, viram moscas e botam mais ovos. Chega o calor do sol, o suco evapora, sobe, vira parte de nuvem que vira parte de uma chuva que cai e vira parte do chão.
Mais uma laranja.
Colhida, comida, vendida, espremida.
Descascada, cortada, chupada, descartada.
Mais suco com ácido. Fazendo revoluções internas; guerras.
Mais criaturas. Morrendo, nascendo, crescendo, caindo ou não.
Mais evaporação; gases e explosões.
Mais imagens, sons, sabores, texturas, aromas.


E mais crianças pedindo Tang.

quarta-feira, março 22, 2006

Spiral

Confuso. É, assim que estou agora. Não é novidade, mas há confusões mais confusas que o confuso-padrão.
Estou me sentindo meio, digamos, sozinho. Queria uma mão extra que não fosse minha, mas que também não houvesse alguma pessoa dona dessa mão, como se fosse uma mão avulsa sem algum corpo acoplado, é estranho explicar isso. Eu não quero uma pessoa inteira, só quero uma mão. Mão que constrói, transforma e destrói; que acaricia e bate; que tapa os olhos ou cega de vez.
Estava batendo as unhas na madeira que apóia o teclado, e, não sei se por causa do movimento ou do barulho ou o que quer que fosse, me dava uma sensação que até agora não achei nomenclatura para expor. Era meio que aquele friozinho que dá na barriga, mas na palma da mão, e subia levemente pelo braço. O estranho é que não acontecia em só uma, era nas duas mesmo, e eu suspeito que no pé também.
Estranho como cada sentimento (e não só sentimento!) é único e tão envoltos por nomes.
Generalizações deveriam simplificar, mas às vezes complicam muito. Mas isso é meio que óbvio, afinal cada um vive em um mundo. É como a visão: meu azul pode ser seu rosa e meu rosa o seu laranja, e como você vive desde o início da sua vida, sua mãe [cujo azul é roxo e rosa é dourado] mostra pra você que o roxo dela se chama azul, mas o que ela chama de azul é o seu rosa, porém você aprendeu a chamá-lo de azul, e esse azul é cor de menino!
E nesse ponto em que um mundo se encontra com outro, e quando se aproxima muito corre risco de explosões, ou, dependendo do tamanho, pode entrar em órbita. Mas esse satélite orbital se alimenta, fica grande, sai de órbita e escolhe um outro lugar (ou não).
Agora vou dormir porquê minha rotação está prejudicando minha translação.
Mas continuo confuso.

quarta-feira, março 08, 2006

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


Álvaro de Campos, 15-1-1928

quinta-feira, março 02, 2006

Aleatório

Quando uma mera frase de desejo vai ser levada como uma mera frase de desejo? Às vezes é difícil segurar uma frase de desejo, e ela foge! Às vezes não temos culpa da falta de desejo alheio, mas não leve a mal uma frase indomada que nem sempre é um convite. Eu só queria um pouco, o suficiente para ficar alegre! Não mande-me ao inferno, eu nem te chamei para compartilhar do desejo!
As horas se vão, células morrem. E quando todos os pixels apagam, a tela se apaga. E podemos apertar o botão do estabilizador. E se apertar antes, pode danificar algo, ao menos é o que dizem! Coisas apertadas antes da hora podem ser danificadas? Deve ser por isso que a moça da quitanda pôs a plaquinha de "Não apalpe" em cima das pêras!
E o duro vira macio ou nós só nos acostumamos com sua rigidez? Às vezes as coisas amolecem mesmo com o tempo, mas outras vezes não. A dureza às vezes vem coberta com veludo, mas outras vezes não. Às vezes as bolsas de águas são macias, mas sem a água nem tanto. A própria água às vezes nem é tão macia assim!
Os vizinhos às vezes fazem parte da nossa vida, mas algumas vezes quem faz parte da nossa vida está bem longe. Os vizinhos, às vezes, ouvem o que você berra na cozinha ou suas cantorias no banheiro, mas às vezes não são eles quem deveriam estar ouvindo. Às vezes um cachorro dorme ao seu lado na cama, não é bem ele que você queria, mas serve né!?
Se vestir bem, se perfurmar e se maquiar nem sempre chama atenção. E comer maracujá nem sempre significa dormir, do mesmo jeito que estar triste não significa ser triste. O histórico pode ser apagado, mas seu conteúdo vai continuar existindo em algum lugar por aí. E desejos, nem sempre desejados, podem ser calados, mas às vezes é melhor não. Momentos podem ser construídos ou evitados. Amigos podem ser aleatórios ou selecionados.
E outras coisas que eu esqueço às vezes.
Tudo é tão relativo.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Deceptions and promises

Escrevo aqui para mostrar a minha vergonha comigo mesmo, quem sabe eu não aprendo dessa vez!?
Hoje fiz uma prova para bolsa de estudos no Objetivo, e fui mal. O pior é que a prova era fácil, me senti uma merda no caminho para casa.
Mesmo eu não sabendo as respostas corretas, eu sei que eram fáceis. Se eu tivesse estudado um pouco eu iria bem melhor, com certeza. Chutei a maioria, mas mesmo que eu consiga uma nota boa, não foi voluntariamente. Eu devia ter deixado de frescura e ido nas aulas demonstrativas que eles deram dois dias antes da prova, mas não fui! Mesmo com os conselhos que me deram, com as palavras de apoio e incentivo, eu preferi ficar aqui em frente ao PC com biquinho e birra.
Não saber o que um ribossomo ou um lisossomo faz, não saber se albinismo é dominante ou recessivo, e talvez o pior: não saber calcular plano cartesiano, entre outros. Vamos esquecer a hipocrisia de dizer que esqueci como faz, um dia eu soube, mas hoje em dia não sei. E é isso.
Sim, eu sou arrogante o suficiente pra culpar alguns dos meus professores, mas modesto o bastante pra culpar a mim mais do que a eles. Mas principalmente a professora Cida de matemática! Aquele sistema de decoreba me irritava e a falsidade dela com os alunos era imensa. O ensino dela se resumia a "aprende isso agora, mas aprende agora porque depois você tem que esquecer pra eu ensinar a próxima", parece estranho, mas era assim que funcionava! De tanto que as provas eram completamente baseadas na última matéria que ela passou, ás vezes caía umas de matérias já passadas, mas isso só acontecia quando era prova com consulta. Parecia que ela queria inflar o ego dela, mostrando as notas boas dos alunos que conseguiram decorar aquela merda.
Mas, voltando a criticar a mim mesmo (afinal esse é o propósito do post), não vou desistir dos meus ideais por causa dessa prova, pelo contrário, vou usá-la como exemplo da merda que acontece quando não se corre atrás. E eu ainda alimento esperanças de que vou entrar na USP apesar do fiasco que foi essa prova. Só preciso estudar um "pouquinho" mais e levar tudo isso a sério, porque a maioria não se inscreve nos vestibulares para brincar de escolinha.
E, enfim, espero que alguém aprenda com meu erro, afinal nós também crescemos com os erros alheios.
Critiquem à vontade.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Looking for innocence

Me parece que infância é algo que não existe mais. A inocência das crianças me faz falta.
Hoje em dia qualquer pessoa de sete anos já libera seus palavrões pelos quatro ventos e que quer arrumar uma namorada[o] para beijar igual vê na novela. Será que as novelas estão roubando a audiência da Xuxa? E tem também aquele programa, inocentíssimo por sinal, o Zorra Total, que fazem as crianças rirem com piadas machistas e sexistas e crescerem com a mentalidade congelada nesse nível. Mas será mesmo a TV responsável por tudo isso? Afinal, tudo o que eles fazem é seguir a maioria. Não estou inocentando a TV de maneira alguma, mas será ela a única culpada? Afinal quem assiste faz a programação, e acho que nem preciso citar a mentalidade da grande maioria, preciso?
Músicas fazendo apologia ao sexo e meninas rebolando, sem falar nas mães orgulhosas ao verem suas miniaturas agirem como elas. É quase pedir um neto, ou outra marionete para brincar. E então vem os garotos que devem agir como predadores e comer o que vier em sua frente, pois o que conta é o número afinal. E viados os que não seguem essa linha!
A sociedade atual, hipócrita como nunca, manda à guilhotina os valores básicos vulgarizando-os em praça pública. O amor deve ser o maior desses coitados, citado desde novelas à funks cariocas. Virou uma coisa fútil e insignificante. Diante de tanta exposição radiativa, desenvolveu um câncer, passando por uma pesada quimioterapia em que poucas células sobrevivem enquanto as outras são mortas. O amor virou anatomia humana, o afetivo foi enterrado pois o sexual é o que interessa realmente.
E as pessoas passam isso pra TV, que passa isso pra pessoas incluindo crianças que crescem como as pessoas que passaram isso pra TV, que passa isso pra outras crianças. Será que isso tem volta?
Criança virou lenda, mais uma pro rico folclore brasileiro.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

BLOGS & blogs..

Well... pra estrear esse blog nada melhor que explicar o por que da criação do mesmo.

Eu assumo, odiava blogs! Não suportava aqueles pedidos-spam de "comenta láaa?"
Mas claro, tem um motivo para tanto odio no meu coraçãozinho: o conteúdo.
Todo blog que eu visitava não passava de uma agendinha online pra todo mundo que quisesse ver [e até comentavam!] e toda essa vida alheia não me interessava.
Até que o Alek [vide Santuário das Almas nos links =>] teve uma idéia que mudou esse meu conceito, um blog onde não falasse o que almoçou e nem quem beijou naquele dia, era um lugar pra postar pensamentos, críticas, etc.
Se vocês perceberem [ao menos] o título e o subtítulo, verão o que pretendo postar no futuro. Idéias, desabafos, textos ou músicas que fizeram e/ou fazem parte da minha vida e que mexe com algum sentimento MEU. De melodrama à revolta e de cotidiano à momentos.

Descarregada a pressão do primeiro post, espero que o próximo seja mais produtivo.


PS.: Críticas são bem aceitas.