sexta-feira, julho 31, 2020

Non sense

Eu não sei escrever nada sem sentido.

Por mais que o sentido não seja atingido,
Minha escrita tem alma e corpo
E sangue e fluido e vida.

Quando viva, pulsa firme e continuamente
Como teimoso que ousa bater de frente
Com o próprio pai em algo que
Nem certeza tem
Se está certo ou não.

O tempo passa, as coisas mudam, e
Seu autor nem é mais o mesmo,
Seu tema não tem mais o mesmo ponto de vista,
Seus erros já podem ter sido corrigidos
E sua razão de ser não é mais.

Metamorfoseia-se em fóssil
De memória que não soube ser finita,
Pois ao ser registrada ganhou
A própria imortalidade.

Perderia o sentido se morresse,
Mas não morre, ao invés disso
Sublima suas palavras em sentimento
Que pulsa firme e continuamente,
Mesmo que não seja compreendido.

Ainda assim, ao ser sem sentido para
Aquele que a lê, cria-se um sentido
De ausência de sentido que
Nunca será sentido por mim.

Neste matagal sem cachorro que é,
A interpretação permite a vida
Em um ecossistema completo
(E complexo)
Onde o objetivo não encontra leis,
Onde o subjetivo domina e,
Quem não está preparado para ler,
Não lê, não alcança e não vive
O que a escrita pede para sentir.

Pois do que é feita a escrita
Senão da vida do próprio autor
E de suas experiências
E memórias
E teimosia
Em compartilhar algo que para ti não faz sentido,

Mas,
Em sua vida e fluido e sangue e e corpo e alma
Em sua simbologia protetora, encerra em si
Um sentido,
Frágil e potente,
Que há, está e é.