Às vezes eu sonho, mas isto não afeta a realidade.
As cores não mudam e as lógicas não se retorcem no mundo em vigília sóbria.
Sóbria?
Todo sonho é uma imagem deturpada de uma imagem já deturpada.
A imagem é individual e o sonho é a própria individualidade.
Eu sou meu sonho e ainda assim a imagem não muda.
Perecível e limitado, o corpo recorta pra si a realidade que lhe convém tanto quanto o sonho o faz com nosso produto imaterial.
Alma?
A alma é tão ridícula quanto o físico, mas parece ser superior e grande — pois é dela que surge a sensação de existência e o sonho do eterno.
A alma é uma plataforma pequena para nossa ainda menor necessidade de existir.
A única, a base.
Ridícula, egoísta, estúpida e, mesmo assim, faz-me ter essa visão e fome de verdade absoluta e utópica em minha ignorância animal.
No fora de mim — e somente no fora de mim — tudo é real.
Real?
Não passa de campo neutro, desenho para colorir, radiação de luz em corpo sem sombra.
A sombra? Sou eu e somente eu.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo e toda forma que eu puder inventar sem saber que invento. Ad aeternum.
(Itálico: trecho retirado do quarto verso de Tabacaria, escrito por Álvaro de Campos)
terça-feira, junho 26, 2012
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